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CON'NECT with UltimaSpell

Hoje estamos à conversa com UltimaSpell, uma Cosplayer cujo principal foco é poder contar uma história através da sua arte. Fazendo de tudo um pouco, Ultima conta-nos o seu percurso, onde tudo começou, o que a motiva e cativa no mundo do Cosplay e que desafios enfrenta nas redes sociais e plataformas de criação de contéudo nos dias que correm.


UltimaSpell de Shenhe (Genshin Impact) (Fotografia: @fabnihl)

Primeiro que tudo queríamos imenso agradecer-te por teres aceite fazer esta entrevista connosco é um prazer poder falar contigo sobre a tua jornada!


Obrigada eu pelo convite e disponibilidade! Parece-me ótimo.


 Temos como formalidade perguntar os pronomes e/ou como preferes ser tratad@ durante a entrevista para que te sintas o mais confortável possível.


Perfeito, ela/dela para mim.


Como se iniciou a tua jornada no mundo do cosplay? Vimos que publicaste a tua primeira foto no instagram em 2019! Já fazias cosplay antes disso? Como entraste em contacto com o hobby?


 Já conhecia a palavra Cosplay e já conhecia pessoas que o faziam nos eventos, como o Iberanime, há já uns bons anos. Nunca estive diretamente ligada mas conhecia desde 2010 o significado geral. Em 2018 fui ao Iberanime do Porto casualmente e fiquei fascinada por ver cosplays de jogos que adorava, comecei primeiro a jornada de colecionar jogos e consolas, em 2015, frequentei feiras e eventos de jogos retro e conheci algumas pessoas por aí. No final de 2018 criei o meu Instagram e segui pessoas que tinha visto no Iberanime e outras com os mesmos interesses que eu. Com o passar do tempo preparei-me, comecei a fazer o meu primeiro cosplay, queria ir a Lisboa sozinha, felizmente tinha conseguido o meu primeiro emprego e tinha possibilidade de fazer a viagem. Não conhecia ninguém pessoalmente, acabei por ficar em casa de uma amiga mesmo assim (@kievoir) que me acolheu desde o início. No Iberanime de Lisboa de 2019 conheci imensas pessoas, amigos de amigos e pessoas que me reconheceram da internet apesar de ainda não postar fotografias. A minha primeira vez a fazer cosplay foi mesmo lá.  As pessoas que me inspiraram a ser livre e encontrar espaço para mim são muito importantes. E claro, os videojogos, neste caso específico, Final Fantasy que me inspirou a querer trazer à vida personagens, e do qual fiz os meus primeiros dois cosplays para a convenção.

 

Achamos que é comum entre cosplayers ganhar esse interesse por termos visto algo relacionado na internet e começar por encontrar pessoas com interesses semelhantes ou a fazer algo que nos chama e nos dá curiosidade de o experimentar.

Desde o começo até hoje diria que o teu foco principal é a criação de conteúdo e ficamos sempre pasmados com a capacidade e disciplina que tens quando o fazes, sempre entregando algo novo! Que aspeto do cosplay mais te cativa para além da fotografia e que, potencialmente te chamou para teres começado a fazer cosplay?


 Obrigada! Não me levo a sério o suficiente apesar de levar o cosplay muito a sério, se é que isto faz sentido. Foi importante para mim criar, juntar algo que amo, a arte original, seja ela de um jogo, anime, livro, etc, e tornar-me parte dela sendo uma extensão para o mundo real. Colocar-me a mim ligada e através de mim, quem trabalha comigo para construir uma cena, um pedaço de arte viva. A fotografia é a minha expressão favorita porque foi através dela que eu vi o meu cosplay com outros olhos. As ideias a fluir, depois de perceber que era possível transmitir algo da personagem, do momento, pela imagem, comecei a ficar ainda mais interessada em criar.  Sendo esta parte a que mais me cativou, trazer um mundo para fora e eu mergulhar nele ao mesmo tempo, será quase emocional? A maioria das personagens que faço não vão estar a sorrir, trazem com elas dor, raiva, e expressão complexa, isso para mim foi um alívio, sorrir para fotos é um pesadelo pessoal. E apesar de ainda me dizerem para o fazer e eu própria ter criado um leque maior de expressões nas quais fico confortável, tenho sempre a oportunidade de lembrar que a personagem não ia querer estar a sorrir. Posso ser alguém diferente ou tão parecida a mim mas que a torna mais facilmente aceite por estar detrás do fato. Junto com pessoas que conheci, explorei sítios, ideias, e sou muito grata a eles por me ouvirem ou por me fazerem sentir à vontade para falar e fazer!



UltimaSpell de Kainé (NieR: Replicant /NieR: Reincarnation) (Fotografia: @fabnihl)


 Ficamos felizes de ler estas palavras, tens o coração no lugar certo no que toca ao Cosplay e nota-se imenso o amor que colocas em cada um dos teus photoshoots e cada cena artística que produzes.

Já voltamos à fotografia mais para a frente, mas no aspeto mais técnico, tens curiosidade em desenvolver alguma habilidade no futuro relativa a cosplay ou sentes que o cosplay te ajudou a desenvolver alguma habilidade que sempre quiseste saber fazer ou melhorar?


 Obrigada pelas palavras! Eu comecei a fazer cosplay já com uma idade adulta e senti-me sem tempo e com medo sinceramente de me aventurar demasiado no craft. Sempre soube coser à mão e faço muitos arranjos e detalhes, gosto de pintar props, coisas assim. No entanto, sempre quis ficar na zona do saber de tudo um pouco mesmo não sendo especialista em nada. Perde-se um pouco hoje em dia o hábito dos mil ofícios mas no cosplay é mais que essencial. Uma noção básica de costura, trabalhos manuais, fotografia, maquilhagem, tratamento de perucas, atuação, entre outros, dependendo dos objetivos da pessoa. Em específico queria ser melhor modelo. Acho mais difícil porque com o stress de sermos nós a montar tudo na sessão fotográfica ou evento, depois é mais difícil relaxar a ponto de encontrar melhorias nessa parte. Mas quero muito aprender aí. E claro, treinar todos os mil ofícios! Conhecimento base é sempre bom, respeitar os profissionais e entender que não se consegue ser como eles do nada, mas podemos aprender muito por nós e aplicado à nossa arte. Eu não falo ou entro nestes devaneios! O que quero investir este ano é no vídeo, sendo eu o sujeito é complicado mas quero aprender mais fazendo com os outros e eu mesma estando ciente e preparada para fazer a direção artística e edição das ideias e projetos.


Sentimos imensa saudade de cosplay music videos, era algo que se fazia muito antes e que era interessante voltar. Estamos com imensa curiosidade de ver os vídeos se sempre forem para a frente.


Preciso disso, de ver cosplay em vídeo! Não cheguei a tempo disso, mas consigo imaginar. Sem tirar mérito aos criadores de vídeos rápidos, o vídeo só cresceu aí, e merece o seu lugar nas danças, skits, transformações, etc. No entanto, tal como não substitui a fotografia também não substitui a cinematografia, é uma composição completamente diferente. Sinto que apesar de não ser uma tendência geral não somos os únicos a pensar assim e acredito que vai haver mais conteúdo de vídeo deste género no futuro.



UltimaSpell de Misato Katsuragi (Neon Genesis Evangelion) (Fotografia: @fabnihl)


 E pegando exatamente na área do vídeo e fotografia que é sempre o que nos fascina mais no teu trabalho, precisamente por trazeres à vida mundos e cenários, sabemos que tu e o Fabnihl para lá de um relacionamento são uma equipa infalível, como é que tudo começou no sentido de pensarem e projetarem as ideias e conceitos juntos?

 

Ora, o Fabnihl foi a primeira pessoa que me fotografou. Muito antes de criar ligações pessoais nós conhecemo-nos pelo gosto por assuntos muito parecidos, ele é um artista multifacetado que se deixa estar muito pela sombra. Ele estava a começar a querer aprender mais ainda sobre fotografia na prática quando eu comecei a fazer cosplay. Foi um crescimento mútuo. Depois de fotografias em convenções continuamos sempre a partilhar ideias, lugares, de diferentes sítios do país que conhecíamos, e a vontade de explorar e viajar foi gigante. Complementamos muito as ideias um do outro e estamos sempre abertos a novos desafios. Foi lindo ver alguém crescer ao meu lado, vê-lo juntar dinheiro para comprar a câmara fotográfica, o quanto ele aprendeu e se esforçou inumanamente estes anos. Tenho mesmo de dizer porque é uma verdade pouco vista.  A evolução, o estudo, tanto na prática de fotografia como edição, o esforço vindo genuinamente também aqui do amor pela arte. O talento importa-me e acho que é parcialmente inato. Mas ver alguém com talento e visão artística tão focado em melhorar tudo é o melhor que se pode pedir. O mundo é complicado e a arte não é um caminho fácil. Nem sempre há tempo e recursos. Mas demos tudo e vamos dar. Por nós, porque queremos, porque podemos.

 

Do ponto de vista de quem é fotógrafo, existe a tendência para estar nas sombras mas ser também quem trás o cosplay ao mundo real e muitos cosplayers não têm noção da quantidade de estudo e também investimento que está por trás de muitos dos nossos fotógrafos.


 Exato, é uma pena, e tem de haver sempre a consciência de creditar as pessoas pelos trabalhos, por mais que haja uma tendência de ficar mais à sombra nunca podem faltar as menções dos artistas, o mais possível, somos uma equipa. A pandemia dificultou tudo e atrasou as interações, pelo menos no meu caso, eu não tinha possibilidade de me deslocar facilmente e diversificar as pessoas com que trabalhava, agora estou em Lisboa e por problemas pessoais e falta de recursos monetários e oportunidades ainda não expandi as minhas aventuras artísticas. Mas tudo a seu tempo, acredito que ainda vamos ter e criar oportunidades de trabalhar uns com os outros dentro desta comunidade. Principalmente pessoas que partilhem ideias e princípios. Posso ressalvar que comunico por email, está na bio do Instagram e o Fabnhil tem email e mensagens abertas também.


 Ainda no tópico da fotografia e conteúdo, o que te motiva para criar conteúdo e como geres a produção do mesmo seja planeamento, cenários, sessões fotográficas e o destino futuro do conteúdo?


 Eu tomei uma decisão difícil. Podia tentar fazer coisas em tendência em detrimento do que gosto para me tornar mais consumível. E as crises que tive por ser pouco ou mal consumida! Soa muito mal isto. De lembrar que o cosplayer usa a própria imagem como conteúdo, não é tão fácil e simples sermos o objeto da nossa monetização e arte, tão pouco lidar com as diferenciações entre nós e a nossa persona. Eu fiquei pelo meio na minha decisão, faço conteúdo fan service, mas fico com a prioridade central de fazer o que quero, uma coisa que sustenta a outra e vive em harmonia. Corre bem? Quase. Está tão difícil criar projetos novos que envolvam viagens, mas isso motiva a continuar a trazer conteúdo consistente. Mesmo que corra mal e não haja crescimento, há de ajudar. Sempre quero cobrir os custos primeiro. Criar oportunidades. Antes de tudo pagar aos artistas envolvidos, depois logo se vê. Não gastem é as vossas poupanças como certas pessoas, nomeadamente eu. Estou mais controlada ou sem poupanças, alguma coisa aconteceu.


 Admiramos a capacidade de nunca desistir e também o respeito por pagar aos artistas envolvidos, o que nos leva um pouco à próxima pergunta pois sabemos que hoje em dia é particularmente difícil ser criador de conteúdo porque as plataformas online não ajudam na divulgação do mesmo. Como é que isso afeta a tua produção e até a tua saúde mental?


 Afeta muito e mal. Eu sofro de problemas de saúde mental e isso torna-me especialmente sensível para as loucuras e reviravoltas das redes sociais e consumo de conteúdo. Desde receber comentários inapropriados, bullying, pensamentos intrusivos, desespero, comparação com outros, problemas de imagem... A lista é enorme. O que me ajudou muito foi a minha idade, não imagino como lidaria com isto se fosse adolescente, é assustador. Não que alguém mais novo e com mais maturidade e sanidade mental não consiga lidar melhor, mas eu sinto que não conseguiria expor-me assim antes, pelo menos sozinha. A parte da exposição sou eu, sozinha. Estar rodeado de pessoas que te apoiam e entendem é fulcral! Por mais que não tenhamos de ter mil amigos ou ser uma borboleta social, ter apoio moral de alguém é muito, muito importante. Eu obtive o meu apoio de pessoas que conhecia aqui e uma aceitação distante de outras pessoas da minha vida que não querem saber e então não interferem.

Quanto a ser criador de conteúdo, eu só penso por mim e pelo que vejo, a pessoa tem de o fazer por algum motivo, se o motivo for a fama e o crescimento do ego... boa sorte. O motivo principal tem de ser o gosto pelo que se faz para sermos os primeiros a ficar satisfeitos com o nosso conteúdo e a sua evolução. Outra direção seria de quem quer monetizar seriamente e quer seguir tendências, fazer mais pelo seu crescimento. Essas pessoas existem num paralelo de muito trabalho consistente, persistência e bons contactos, a dita sorte pode interferir mas não vem só.

O meu conselho é parar para pensar racionalmente nas coisas, ter noção de que outras pessoas com sucesso tem acesso a outros recursos e ou oportunidades, ou mesmo que os caminhos são diferentes. Eu tive de me distanciar da persona online e interagir menos porque me levava a extremos em que tinha de desativar ou apagar contas minhas para me sentir segura. Bem, procurar oportunidades sempre, dentro deste algoritmo sem nexo, mas com a raiz sempre firme no porquê, no que estamos a criar, a diversão, o gosto pela arte, amizades, o que seja, estar primeiro que o ego, que se vai afogar no algoritmo quase de certeza.



UltimaSpell de 2B: Alternate Battler (NieR:Reincarnation) (Fotografia: @fabnihl)


 Excelente conselho, porque acima de tudo se não o fizeres porque gostas e se não te focares no que gostas as pessoas vão acabar por perceber que realmente não tens nem o coração nem a mente no sítio certo. Ficamos felizes que tenhas conseguido superar em parte o que te afligia mesmo com quedas ou percalços.

Crês então que com a enorme quantidade que hoje em dia existe de produtores de conteúdo tem-se tornado mais difícil vincar na área?


 Oportunidades de ouvir as pessoas mesmo que elas não tenham por costume falar é uma maneira fenomenal de ajudar. E agradeço muito por esta conversa e todas as outras. Gostava de não transparecer tanto sofrimento e fiquei com mais experiência em distanciar-me, mas também é importante ser real e a minha distância veio mais de não aguentar mais do que de conscientemente decidir os meus passos na parte do que partilho da minha mente.

Penso que se torna mais difícil pela saturação e homogeneização dos conteúdos. Tendências puxam as pessoas, e o sucesso de alguém leva a mais pessoas tentarem esse caminho mesmo que não seja o mais indicado para si. Há uma boa oportunidade de aprender com tanta gente, encontrar nichos, ideias e pessoas que combinem com o nosso percurso. É um produto da era digital, o aumento da facilidade de consumo traz essa mesma facilidade aliada ao sobrecarregamento de informação que nos faz sentir perdidos e mais difícil ser distinto. Há quem não queira ser distinto, há várias noções de sucesso. Está mais difícil mas acho inevitável socialmente. A busca de identidade e reconhecimento parece estar do outro lado do ecrã tão perto de alcançar. Não sei onde vai parar este movimento gigante, mas vejo tudo a mudar constantemente. Haja força e mente aberta para seguir e florescer em novos ambientes sem perder a raiz.

 

Manter-nos a par de tudo o que se passa e encontrar o nosso lugar no meio de uma comunidade é difícil mas parece ser uma solução. Envolve muito estudo de redes e manter a consistência, etc. Como referiste anteriormente, o conteúdo que produzes tem por vezes teor adulto/fanservice e és um pouco pioneira do género em Portugal relacionado com o Cosplay! O que te impulsionou a começar a produzir este tipo de conteúdo um pouco paralelo ao teu conteúdo regular?


 É verdade, não havia quase ninguém a fazê-lo, até na sua forma mais leve era muito criticado por pessoas que hoje fazem a vida disso... Não sejam maus e julguem as pessoas, só um lembrete. O motivo é simples, dinheiro. E sentir e saber que era sexualizada de qualquer modo, mais valia tomar as rédeas e lucrar com isso. Isto é algum ato de emancipação feminista? Não. É na mesma um tipo de exploração da imagem. Na altura quis experimentar, senti-me livre para fazer coisas mais, ditas ousadas, e não queria que fosse grátis a minha vulnerabilidade. Começou por ser uma extensão, um extra, que entrava numa linha paralela tal como se disse. Foi uma aliança bonita mas nem sempre corre bem, é muito fácil perdermo-nos ou haver arrependimento de fazer isto ou aquilo. Então de ceder a pressões por necessidade... É muito frágil e ténue a linha na criação e venda de conteúdo. Detesto quando é tratado como fácil pelas pessoas ou uma piada, quase tanto como detesto quando dizem que o Cosplay é só uma brincadeira e quem se leva a sério é arrogante (temos de ser menos que outros artistas porque usamos a nossa imagem...). Consciência das facetas da criação de conteúdo é mais que essencial, principalmente com tanta gente muito jovem a aderir.  Há mais maneiras de monetizar, muitas, e é complicado encontrar um público-alvo que aceite as diferentes versões. Apesar de eu não fazer nenhum conteúdo dito explícito é sempre diferente o tipo de exposição, hoje é banalizado em público tal como é julgado em privado. É bom encontrar um lugar para a nossa criação e as variantes dela. Ainda procuro um equilíbrio mas não tem sido fácil principalmente não havendo quase nenhuma oportunidades fora da venda do conteúdo digital.

 

Ainda existe um grande estigma na comunidade em relação ao conteúdo adulto produzido por cosplayers mesmo não sendo particularmente muito explícito, alguns dizendo que nem sequer é Cosplay. Sentes esse tipo de descriminação ou de qualquer outro tipo e sentes que produzir esse tipo de conteúdo alguma vez interferiu na visão que têm de ti enquanto cosplayer por parte da comunidade? E profissionalmente, no caso de potenciais parcerias futuras, etc?


 Sim, interfere. Mas tem mais a ver com a maneira como expressamos, as pessoas que puseram de parte e discriminaram são elas hoje a vender conteúdo ao qual chamam “spicy”. Tudo bem, está muitas vezes relacionado com as versões das personagens, seja, um biquíni, uma lingerie, uma versão maid, ou qualquer fato mais revelador. O mais ridículo é que esse estigma aparece nestas circunstâncias, mas não aparece no Cosplay casual em que alguém usa uma peruca e pouco mais dito como Cosplay. O corpo e o tipo de exposição são sempre vistos com parâmetros diferentes. A rotulação é enorme e os tipos de corpos entram aqui também com um papel, uma pessoa com mais curvas está automaticamente a sexualizar a personagem, está sempre sexy, isso acontece-me. Estou a usar um cosplay canon mas como as pessoas não têm o conhecimento alargado e vêm uma pele mais exposta é logo criticado com argumentos inválidos, já me aconteceu insistirem comigo que aquele Cosplay não existia porque eu não tenho corpo igual ao boneco. Joguem os jogos! Que problema danado... Não é, mas é chato. Falo aqui da minha experiência individual que é só um fragmento do preconceito profundo que existe. As pessoas são sempre postas em divisões, com rótulos e apesar da mistura enorme que hoje existe persiste uma vontade de separar. Com o decorrer do tempo eu vi logo as provas da hipocrisia nessa descriminação ao mesmo tempo que sabia como ela era ativamente feita. Até hoje não tive nenhum convite de trabalho de cosplay nem nenhuma oportunidade e aceitação para participar num evento. Terá a ver? Não faz sentido hoje em dia porque as pessoas que lá estão também o fazem, mas chegaram depois da destigmatização pública... A nível de parcerias tive oportunidade com publicitação de Cosplay nessa versão de fanservice. Sei de quem tenha várias oportunidades em todo o espectro do Cosplay mas não é o meu caso até agora. Trabalhei no que consegui mas não recebo convites usualmente.



UltimaSpell de 2B (NieR:Automata / Fanart de: @dishwasher1910) (Fotografia: @fabnihl)


Lamentamos bastante porque todos os tipos de cosplay são válidos e a comunidade nunca deveria ser um lugar de descriminação até porque, como sabemos, é composta de muita gente diversificada que encontrou o seu espaço de conforto no cosplay e estar a excluir uns e outros não, é bastante contraprodutivo.Sentes no entanto que também te fez mais forte e com maior capacidade de encaixe teres esse tipo de experiência?


 Sim, embora seja complicado, trauma é sempre trauma apesar de se aprender por consequência. Nem tudo foi necessário, mas aprendi muito por não desistir e me adaptar.

 

Ficamos bastante felizes de saber, porque é preciso ter noção da vulnerabilidade que temos ao nos expormos na Internet.Que cuidados sentes que deveria ter um Cosplayer que quer começar a produzir conteúdo adulto, não só a nível desta mesma exposição, como também a nível emocional?


 Primeiramente, experiência geral como Cosplayer, a exposição ao ser gradual somos capazes de entender melhor como nos sentimos e avaliar as consequência tanto na nossa vida emocional como outros aspetos profissionais e sociais, assim sendo, aconselho uma certa experiência com conteúdo regular antes de sequer começar a pensar criar outro tipo. A imagem lá fora já é uma grande consequência para se lidar. E gente mais nova, jovens adultos, conversem, informem-se com outras pessoas, variadas, não vejam só os resultados de quem tem sucesso ou até os problemas de alguém que é discriminado por fazer conteúdo. O importante é saber as consequências possíveis e ficar perto dos nossos objetivos iniciais. Não fazer por moda, pressa, e também ter calma e saber que nada será o fim do mundo se for feito com consciência.


 Obrigado por teres sido vulnerável connosco a respeito deste tópico mais sensível!

Mudando totalmente de assunto, tens uma grande paixão por Nier e todo o Universo de Yoko Taro! Estás muitas vezes a desenvolver projectos inteiramente dedicados ao franchise! Podes contar-nos um pouco sobre o que está para vir?


Timing perfeito porque vou conhecer o Yoko Taro dentro de pouco tempo! É surreal, e vai ser difícil não me prolongar neste tópico. Vou agora em Fevereiro ao concerto NieR:Orchestra Concert: 12024 [the end of data] em Barcelona com bilhetes VIP onde vou poder conhecer a equipa, Yoko Taro, Yosuke Saito, a fantástica J’nique Nicole e Emi Evans, Eric Roth e, penso que não vai estar em Barcelona o Keiichi Okabe. Planeio fazer o habitual, a sessão fotográfica, já é a terceira orquestra de videojogos a que vou e sempre fiz Cosplay. Criar o máximo de belas memórias e conteúdo, espero filmar muito. Tenho de experimentar o vestido e preparar muita coisa. Um projeto épico a caminho. E dentro deste tópico, neste Verão fiz uma série de projetos de NieR, colaboração com cosplayers e fotógrafos, fiquem atentos que os resultados vão sair em breve. É mesmo difícil resumir este amor pelo mundo de DrakeNieR. Nada me inspira mais e me motiva mais a fazer o impossível. A minha coleção começa nos jogos, figuras, livros, experiências, Cosplays e não acaba. Ao procurar localizações para pedaços do jogo, fizemos uma tour do Algarve ao Minho este Verão para conseguir desde o deserto à floresta, passando pela cidade em ruínas. Obrigada a todos!E ainda tenho uma lista enorme de projetos relacionados à espera de oportunidade ou upgrade. Quem gosta, fique atento porque a fonte não vai secar tão cedo.



UltimaSpell de A2 (NieR:Automata) (Fotografia: @fabnihl)

 

Nem queremos que seque! Tens mais algum projecto sem ser relacionado a Nier que também estejas a trabalhar e que queiras partilhar connosco?


Bem, o meu foco agora está todo no projeto do concerto e meet and greet, no entanto tenho uma lista extensa de cosplays à espera de oportunidade para fotografar e filmar. O meu sonho de fotografar na neve ainda não se concretizou, espero conseguir ainda este ano. Podem esperar conteúdo variado, ainda estou a ganhar coragem e esperar passar este foco no concerto, mas há muito que quero explorar.


 Para finalizar, que mensagem gostarias de deixar à comunidade, especialmente aos Cosplayers que estão agora a começar?


Para todos na comunidade tenho a dizer para saírem da bolha das redes sociais e questionarem o que gostam no Cosplay e na comunidade, procurar novos desafios por aí, projetos com pessoas com gostos semelhantes e quiçá visões complementares. Aprender, adaptar, criar mais memórias e conteúdos com honestidade artística ou diversão como foco central. Aos que se querem juntar ou estão nesse processo, somos todos pessoas a tentar, não se limitem a conhecer pessoas e aprender, não se deixem ficar num círculo ou grupo. Informem-se, todos podem, todos conseguem, tentem, um passo de cada vez, quem gosta continua e adapta-se.


Tivemos o maior gosto em falar contigo hoje, é verdadeiramente uma honra! Obrigado por este bocadinho!


Obrigada eu igualmente por tudo, fico hesitante e nervosa em falar mas também sabia que podia confiar em vocês e neste projeto. Fico feliz em partilhar as minhas ideias! OBRIGADA MESMO!!!!! Foi ótimo. É um prazer raro e fico mesmo mesmo feliz.


Entrevista por @manonbluts e @booblebuu

Edição por @manonbluts, @such_turista, @noras_cosplay e @damiin.cos

Fotografias cortesia de @ultimaspell e @fabnihl


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